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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O QUE FAREMOS??????

Tragédia do crack exposta nas ruas

Praça no Flamengo reúne viciados, que impõem medo para sustentar a dependência

Rio - O Monumento a José de Alencar vela, quase todos os dias, o sono irrequieto e perturbador de jovens já destruídos pelo crack. A praça em homenagem ao escritor e jornalista, no Flamengo, amanheceu ontem tomada de adolescentes deitados na base da estátua, uns em cima dos outros. É lá onde muitos passam a noite depois de uma aterrorizante e triste rotina. Nas ruas do bairro, depois de atacar pedestres, a gangue corre para a Avenida Paulo VI, no Morro Azul, onde consegue pedras da droga devastadora por R$ 1.

Na Praça José de Alencar, menores passam a noite depois de consumir a droga. Á direita, jovem fuma crack no Jacarezinho. Foto Fábio Gonçalves/Agência O Dia

A polícia tem intensificado o combate ao entorpecente, disseminado pela cidade e estopim da tragédia que destruiu as famílias dos jovens Bruno Melo e Bárbara Calazans, morta pelo namorado num ataque de fúria causada pela droga. Ontem, O DIA conversou com a mãe da jovem, Carmem, e com Bruno, preso na Polinter de Neves, em São Gonçalo. Enquanto o rapaz se diz arrependido, a mãe o chamou de “assassino bestial”. À tarde, em Manguinhos, agentes da Delegacia de Combate às Drogas fizeram uma das maiores apreensões de crack no ano: dez tabletes, que pesavam, no total, 10 quilos.

A proliferação de viciados nos arredores da Praça José de Alencar já impõe mudanças a moradores. “Parece que todos os mendigos e pivetes do Rio estão aqui. Minha filha estuda no CCAA e tem de fazer um caminho mais longo para não ser assaltada”, reclama a psicóloga Maria Alice Miranda, que todo dia sai de casa, na Rua Marquês de Abrantes, ao trabalho, no Largo do Machado. No caminho, ontem, deparou-se com os nove menores jogados na praça. “E tem dia que está pior”, frisa.

Comerciantes também se adaptam. Supervisor da lanchonete Subway da Rua do Catete, José Luís da Silva contratou um segurança para recuperar a clientela. “Toda noite, eles pediam dinheiro na loja. Se ninguém dava, eles se transformavam. Ficavam à espreita, prontos para roubar”. Pouco depois, uma menor acordou e, agressiva, incitou os demais a ameaçar a equipe de O DIA. Um garoto de 8 anos presumíveis era o mais alterado. “Se arranca logo daqui!!!”, gritava, esmurrando o carro.

Os 10 kg apreendidos ontem estavam num fogão de uma casa abandonada. Segundo o delegado Marcus Vinícius Braga, o material, avaliado em R$ 80 mil, seria transformado em 50 mil pedras, cada uma vendida a R$ 5. O lucro seria de R$ 250 mil. “A favela do Rio que mais sobrevive do crack é Manguinhos. É ali que está a principal cracolândia”, diz. Os cálculos da especializada indicam que 60% do consumido nas bocas de fumo dali é de crack; outros 35% são de maconha e só 5%, de cocaína.

Estado anuncia dois centros para viciados

Depois de a Prefeitura do Rio anunciar a abertura de três centros de recuperação para dependentes químicos, onde serão tratados também menores internados compulsoriamente, o governo do estado confirmou que fará o mesmo. A secretária estadual de Ação Social e Direitos Humanos, Benedita da Silva, disse ontem que dois novos centros com a mesma finalidade serão inaugurados até junho de 2010. Um deles será no Noroeste Fluminense e o outro, em Jacarepaguá, onde a Fundação para a Infância e Adolescência (FIA) já atende menores usuários de drogas.

A falta de uma unidade prisional apta a receber usuários de crack também preocupa o estado. O músico Bruno Melo, segundo o coordenador das carceragens da Polinter, delegado Orlando Zaconne, terá de ficar, por enquanto, em Neves, apesar do interesse em transferi-lo para o presídio de Água Santa. “Não temos uma estrutura de saúde na Polinter caso ele tenha algum problema relacionado à abstinência”, disse Zaconne.

‘CULPAR A DROGA É EXIMIR O ASSASSINO’
5 MINUTOS COM: CARMEM CALAZANS, mãe de Bárbara

A assistente social Carmem Calazans, mãe da estudante Bárbara Calazans, 18 anos, morta pelo músico Bruno Kligierman Melo, 26, no Flamengo, fez um desabafo contundente a O DIA. Em e-mail enviado ontem, ela o chama de “assassino bestial” e diz que o crack não pode ser apontado como único responsável pela tragédia.

1. A senhora sabia do vício de Bruno? Bárbara falava sobre isso?
Ela comentou que ele tinha passado por internações, mas que lutou e teve resultados concretos para se afastar do vício. Por isso, o incentivava a crescer, a realizar coisas na vida. Inclusive foi para isso que naquela manhã ela se dirigiu a seu prédio: para irem juntos a uma entrevista no Projac.

2. O crack ajudou a matar sua filha?
Trabalho com reabilitação social e aprendi a acreditar na capacidade de transformação do ser humano. Existem os que querem ser ajudados, que podem ser reabilitados, e outros que cometem atrocidades contra quem lhes estende a mão. Não se trata de questão exclusiva do vício, mas, principalmente, de personalidade e caráter. Culpabilizar a droga é eximir a responsabilização desse assassino bestial, capaz de repetir esse ato com quantos forem.

3. A senhora aceita o perdão do pai?
O que Bruno fez foi inominável, um profundo desprezo pelo ser humano. Não queremos desculpas, queremos justiça e que ele seja impedido de fazer isso com outros.

4.Como era a Bárbara no dia a dia e quais eram os seus sonhos?
Prestativa, carinhosa e solidária. Ela queria trabalhar como designer de moda, pois tinha muito senso estético e habilidades com pintura e desenho, além de gostar da área de moda.

‘SONHEI COM ELA E PEDI PERDÃO’
5 MINUTOS COM: BRUNO MELO, músico

Dividindo cela com outros 70 presos, o músico Bruno Kligierman Melo, que confessou ter matado a namorada Bárbara Calazans enforcada, recebeu ontem, pela primeira vez, a visita do pai, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa. Emocionados, eles se abraçaram e choraram juntos. O encontro foi acompanhado por O DIA, que conversou com Bruno sobre a tragédia.

1. Por que você matou Bárbara?
Não me lembro como isso aconteceu. Não tinha motivos para fazer isso. Ela era um anjo. Foi a única mulher que lutou para me tirar das drogas, por isso que estou sofrendo tanto.

2. Ela brigava com você para que largasse as drogas?
Ela era incapaz de brigar com alguém. Nunca a vi sequer levantar a voz. Ela só me pedia que parasse e me olhava com reprovação. O que às vezes me irritava muito mais.

3. O que aconteceu naquele sábado?
Me lembro que Bárbara chegou à minha casa às 8h para irmos fazer um teste de figuração. Tinha acabado de chegar da noitada. Tinha bebido cerveja, caipirinha e vinho desde as 20h de sexta-feira. Estava fumando crack. Ela mandou eu parar e eu disse que não. Depois só me lembro de ter acordado e vê-la deitada no chão. Quando a chamei, vi que estava morta. O susto foi tão grande que queria me matar. Não sei como vou conviver com o peso de tê-la matado. Esta noite mesmo sonhei com ela e pedi perdão.

4. Se você encontrasse com a mãe dela hoje, o que diria?
Não teria coragem de encará-la. Ela sempre me tratou como um filho. Às vezes passava a noite toda conversando com ela. Isso não teria acontecido se não fosse a droga. Mas sei que é difícil para quem não é viciado acreditar no que estou falando.

Reportagem de Mahomed Saigg, Celso Brito e Bartolomeu Brito
Colaboraram Amanda Pinheiro, Celso Oliveira, Leslie Leitão e Maria Luisa Barros

1 comentários:

Revés

Foste abatida
Bárbara querida...
Em pleno voo de amor e devoção

Vida ceifada ...
Estavas desarmada
Carregavas apenas
Sua Boa intenção

Vieram os monstros que atormentam
E com força destrói e faz o algoz
Que insano se entrega aos demonios
E desespera e arrepende logo após

Do céu és agora privilégio
Anjo-da-guarda que pra lá voltou
E já podemos contar com seu perdão
Pois alma pura de beleza cristalina
Encontra plenamente a redenção!


Iraci Gonçalves ciritelle
08/11/09
São Paulo

O meu carinho e respeito à fampilia da jovem

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